antireckordz

2012/02/08

TODOS NÓS SOMOS A CENA!

Filed under: Uncategorized — antireckordz @ 6:23 pm

Lancei meu primeiro CD pela Teenager In a Box em 1997, o “Personal Choice – Days of Trust”. Antes disso só havia lançado o primeiro cd do Paura em 1996 e o ep “Raise Your Head” do Personal Choice em 1995. Desde lá lancei cds do Dance of Days, Dominatrix, No Class, Ludovic, Deserdados, Contraponto, Armagedom… Apenas bandas que gostava (gosto!) e que acreditava que deveriam ter mais espaço e público na cena. De lá pra cá foram quase 16 anos lançando discos, coletâneas, e jamais me arrependi um segundo sequer de ter escolhido o trabalho com a cena independente, porque, acima de ser um trabalho, um meio de ganhar a vida, era algo que fazia e continuo fazendo por convicção.

E já vi a cena crescer e diminuir, vender mais ou vender menos discos, ter mais e ter menos espaços para shows, mas, quem realmente acredita na parada sempre esteve por aí, lançando as vezes mais as vezes menos títulos, tirando “leite de pedra” para não falir, mantendo suas distros DIY e etc. Muita gente entrou nessa, principalmente quando a cena teve seus estouros temporários de popularidade, pensando que ia fazer um “grande negócio” e quebrou as pernas. Desanimou, hoje fala mal de tudo e vomita pelos cotovelos toda conversa cansativa que tanto conhecemos.

E isso aconteceu porque essas pessoas encaravam a coisa de uma maneira completamente diferente de quem vê tudo com o coração. E, cá pra nós, cada um com suas convicções, amizades a parte, mas ainda bem que viram que não era mais um “grande negócio” e foram fazer outras coisas da vida. De nada adiantava ter 1000 selos independentes lançando cds se mais da metade deles brigavam comigo porque colocava preço de capa nos meus discos ou se os mesmos exaltavam a “qualidade” de seus lançamentos as custas de diminuir sem papas na língua em seus discursos o valor dos lançamentos “homemade” em saquinhos de pão com carimbo dos coletivos punks, por exemplo.

O fato é: o que mais moveu e sempre moverá o “mercado independente” (se é que podemos chamá-lo assim) punk e hardcore é o amor a tudo isso aqui. Sempre foi. Salvo raras exceções que se desviaram do curso (Fat, Epitaph, etc.) e quem maquiou um “puxadinho” desse segmento sob o nome “indie” ou “alternativo” para ter e/ou administrar bandas com cara de independentes e posturas de rock stars, ninguém faturou milhões com isso aqui. Pelo menos nenhuma das pessoas que eu conheço e admiro tanto aqui quanto lá fora rsrsrs As pessoas que eu conheço continuam lançando discos porque amam seus discos, gastam absurdos hoje em dia, por exemplo, com orçamentos superfaturados criminosos feitos pelas empresas que se aproveitam da escassez de fábricas no mercado e enfiam a faca nos outros ou se arriscam a perder tudo na alfândega (pois por algum motivo bizarro qualquer nosso país não dá isenção de impostos para importação de vinil pois “não considera cultura”) tendo que fabricar em outro país só para ter o prazer de lançar um LP de sua banda, por esse amor, só pra ter seu “discão” em vinil na prateleira. As pessoas que eu admiro continuam vendendo e distribuindo discos de maneira DIY porque amam saber que a ideia está sendo passada adiante e que é isso o que mais importa.

A Teenager In a Box não me sustenta, mas seria hipocrisia dizer que não faz parte de meu sustento. Tenho o trabalho com a agência, com os shows do Antifest, com as coletâneas da Antireckordz, mas se eu não tivesse tudo isso no coração, todo esse amor que grita no meu peito quando eu penso “Nossa, a Maximum Rock´n´Roll ainda sai…” ou “que legal, um ep bootleg do Defiance!”, eu jamais teria passado toda uma vida nisso e, jamais continuaria não vendo outra coisa que quero fazer para o resto de meus dias. Fico feliz quando encontro novas distros, quando vejo a galera fazendo zines, organizando eventos, participando de levantes como o Verão Revolução por exemplo. Fico feliz quando vejo um moleque levar um zine pra casa, todo feliz carregando um disco nas mãos, e quando alguns meses depois ainda o vejo nos shows. E, acima de tudo, fico muito feliz quando vejo essas pessoas que ainda acreditam e sinto que não estou sozinho nessa.

Nós somos a cena. Nós somos fortes, grandes e jamais deixaremos que o espírito se perca.

Nenê Altro